Tudo fica melhor no seu novo emprego? Colegas, chefes, tarefas – só depois do início é que se tornam evidentes como realmente são. Muitas vezes acabamos noutra loucura. Fique com os exemplos do que falam aqueles que se arrependerem do seu despedimento e de como as coisas correm a seguir.
Foi uma quinta-feira de agosto, oito semanas depois de iniciar o seu novo emprego, quando a Joana (nomes fictícios) se apercebeu que tinha cometido um erro. Um dos grandes. Um que não seria capaz de desfazer. O seu novo colega chamou-lhe “boneca” naquele dia e tomou decisões que eram da responsabilidade dela.
No escritório ela ainda tinha sido capaz de se conter, mas assim que a porta de casa se fechou atrás dela, ao final do dia, e a mala estava encostada no corredor, desmoronou a chorar. Foi neste dia que pensou pela primeira vez: “xxxxx, o que foi que eu fiz?” Por que não fiquei no meu antigo emprego, uma agência de publicidade? Lá o salário era pior, mas, percebo hoje, quase tudo o resto era melhor.
A mudança de emprego destinava-se a garantir que a Joana voltaria a gostar do seu trabalho. Durante meses, vinha a sentir-se cada vez mais desconfortável no seu antigo emprego.
Muito pouco salário, pouco feedback, pouco apoio às mulheres incomodava-a tanto que motivou a decisão de mudança. Segundo um estudo recente de uma consultora internacional, 20% dos empregados estão tão insatisfeitos com o seu trabalho que decidem por uma mudança. Mas a realidade mostra que nem sempre se sentem melhor depois.
Aqueles que mudam voluntariamente de emprego geralmente começam o seu novo emprego com muito entusiasmo e motivação. Mas quanto maior for a expectativa, mais depressa ficamos frustrados ou desapontados.
Mesmo que algumas coisas melhorem, como o aumento salarial tão desejado e necessário, é normal que as pessoas possam rapidamente ficar insatisfeitas. Porque muitas outras coisas – colegas, chefes, tarefas – só depois do início é que se tornam evidentes como realmente são.
Segundo um estudo, 20% dos empregados estão tão insatisfeitos com o seu trabalho que decidem por mudança
Afinal, só se conhecem algumas pessoas nas entrevistas. E o quão bem se pode trabalhar com elas só pode ser julgado no dia-a-dia. Para realmente entender a estrutura de uma organização, leva várias semanas ou mesmo meses. É por isso que muitas vezes acontece que os profissionais hesitam no seu despedimento ou até querem revertê-lo.
Ao ouvirmos outros casos, vamos encontrar relatos de pessoas que mudaram com falsas expectativas, por exemplo, porque pensavam que iriam assumir tarefas completamente diferentes, mas que agora têm de fazer muitas horas extraordinárias, sentem falta da sua antiga função ou dos seus colegas.
“No meu novo trabalho, sou um lutador solitário, e o sentido de pertencer a um grupo está completamente ausente”, contou-me um gestor.
E noutro caso de uma comercial que agora se senta na sua secretária todos os dias: “O trabalho de escritório stressa-me muito mais e muitas vezes pergunto-me qual é o propósito do meu dia.”
Outro caso que me ficou na memória foi de alguém que con- seguiu exactamente o que queria no seu novo emprego: mais 30% de aumento salarial. “O meu antigo empregador recusou-se a pagar-me mais. Isso irritou-me muito porque assumi tanta responsabilidade como líder de equipa na logística”, disse-me.
Começou a procurar alternativas – e deparou-se com o suposto emprego de sonho: melhores salários, hierarquias planas e numa industria interessante.
E apesar de o ter conseguido, não é feliz, porque se aborrece no seu novo trabalho.
Em vez de falar constantemente com os clientes ao telefone e ajudar os colegas, como estava habituado durante anos, agora costuma sentar-se no seu gabinete e analisar vídeos e imagens das redes sociais. Menos stress é, na verdade, uma coisa boa”, disse-me. “Mas sinto falta de ter sempre algo para fazer e me sentir necessário.”
Existe um risco claro de rapidamente voltar ao mesmo estado de insatisfação do passado
Mas será que estas desilusões podem ser evitadas após uma mudança de emprego? Desde logo ajuda a falar com outras pessoas que já estão a trabalhar para os possíveis futuros superiores hierárquicos, digo eu.
Recomendo também sempre aos candidatos que perguntem na entrevista de selecção se é possível falar com os seus futuros colegas. Também deve discutir com os chefes com antecedência o que é importante para si no seu trabalho – e não aceitar uma oferta muito rapidamente só porque quer algo novo.
E voltar ao antigo emprego... pode também ser uma opção? Se o novo emprego ainda não tiver começado, o antigo empregador pode concordar em rasgar a carta de despedimento ou celebrar um novo contrato de trabalho. Porem se o trabalhador já assinou um contrato noutra em- presa, é preciso ter em atenção os pormenores.
Muitos contratos referem que a rescisão antes do primeiro dia de trabalho está excluída ou tem de pagar uma penalização contratual – por exemplo, no valor de um mês de salário se se aplicar um prazo de pré-aviso de um mês.
Se o trabalho já tiver começado, aplicam-se os períodos de pré-aviso contratualmente acordados ou estatutários, que normalmente são pelo menos duas semanas durante o período experimental, pelo menos quatro semanas depois.
Se quiser sair da empresa o mais rápido possível, o melhor é mesmo falar com os seus superiores e tentar uma rescisão imediata porque em regra um empregador tem pouco interesse em empregar alguém que queira sair o mais rápido possível. Muitas vezes é possível chegar a um acordo informal.
No entanto, é aconselhável pensar bem antes de voltar atrás. Existe um risco claro de rapidamente voltar ao mesmo estado de insatisfação do passado. De volta estarão os velhos problemas e frustrações.
Idealmente um retorno bem-sucedido pode passar por assumir uma nova posição com novos chefes e colegas.
Fonte: EXPANSÃO