Na minha actividade continuo recorrentemente a testemunhar situações inacreditáveis de índole burocrática/administrativa, a maioria das quais totalmente desnecessária ou provocada com má índole, e que tem como última consequência o aumento dos custos operacionais das empresas em Angola.
Antes de começar este artigo, gostaria de fazer uma declaração de princípio. Quem me conhece ou lê o que escrevo percebe rapidamente que não sou pessoa de queixumes, fui educado numa família conservadora, que acreditava que apenas devemos contar com aquilo que vem do fruto do nosso trabalho e não estar à espera deste ou daquele para nos ajudarem, muito menos o Estado.
O meu Avô, figura próxima do antigo regime conservador, usava sempre aquela expressão americana que diz “pergunta-te aquilo que tu podes fazer pelo teu País e não aquilo que o teu País pode fazer por ti”. Confesso que em tenra idade nem percebia bem o que ele queria ensinar-me!
Posto o desabafo, vamos ao tema: as últimas semanas têm sido inundadas de forma quase ininterrupta pelas notícias do processo eleitoral e afins em quase todos os órgãos de informação relevante.
Confesso, pela minha parte, e enquanto profissional a actuar no sector privado, que desejo apenas que o processo se conclua com tranquilidade e celeridade e que o novo Governo inicie funções.
Nesta senda de início de funções e definição de temas prioritários, gostaria por uma vez de deixar o meu pequeníssimo “caderno de encargos” ao novo Executivo que tomará posse em breve.
Presencio, inúmeras vezes, a discussões acaloradas que, na verdade, atravessam diferentes extractos da sociedade, sobre as “reclamações” e “exigências” das pessoas em relação ao “Estado”... essa Entidade máxima que supostamente tudo tem e tudo pode com um simples estalar de dedos.
Fico sempre surpreendido com a injustiça e falta de realismo deste tipo de ideologia, muitas pessoas acham na realidade que os recursos públicos, financeiros e humanos são ilimitados e que, no final do dia, o Estado tem dinheiro para aquilo que quiser.
Enquanto gestor e consultor de médias e grandes organizações sei bem que nada está mais longe da verdade. No caso do Estado, o dinheiro é aquele que vem das contribuições das empresas e das famílias, e fora disto apenas se pode recorrer ao endividamento com todas as consequências negativas de perda de soberania nacional em temas estratégicos.
Continuo a testemunhar situações inacreditáveis de índole burocrática /administrativa
Mas existem outros temas, onde realmente dependemos inteiramente da qualidade dos serviços públicos e que muitas vezes não exigem grandes investimentos ou despesa púbica. Uma das métricas mais relevantes para as empresas nas decisões de investimentos temavercoma “capacidade/facilidade de operar na actividade por ela exercida”.
Este é um dos factores principais que em Angola tem sido, na minha opinião, descurado e subvalorizado nalgumas das suas vertentes, e que podia e devia ser uma das principais prioridades do novo Executivo.
Na minha actividade profissional continuo recorrentemente a testemunhar situações inacreditáveis de índole burocrática / administrativa, a maioria das quais totalmente desnecessária ou provocada com má índole, e que tem como última consequência o aumento dos custos operacionais das empresas em Angola.
Por uma questão de decoro e responsabilidade profissional recuso-me a reproduzir aqui qualquer detalhe destas situações, que apenas prejudicam quem está no sector privado, mas gostaria muito de lançar um repto a este novo Executivo:
Todo o dinheiro e recursos gastos em temas não produtivos é menos capacidade de investimento
É ridículo ver comentadores, políticos e analistas encherem páginas de jornais a exigir ao Governo a criação de um x número de empregos de qualidade, mas a minha experiência diz-me que o Estado pode facilitar mais a vida das empresas para que, pelo menos as boas, criem empregos mais rapidamente.
Fonte: EXPANSÃO